Portuguese
Sou pedaço de vida
Deitado na sombra
De uma multidão,
Sou força vencida,
Mergulhada e perdida
Em desilusão.
Sou dor viciada
Em choro e pranto,
Sem poder fugir,
Sou no sofrimento
O espelho do tempo,
Sem nunca o medir.
Sou um rosto secreto
E incompreendido
Na palavra sim,
Sou um resto de gente,
Vergado ao silêncio,
Não se riam de mim.
Sou povo enjeitado,
Em nudez de encanto,
Carrego minha cruz,
Sou um fado pesado,
Compasso trinado,
Um canto sem Luz.
Se digo o que sinto,
Se minto no que sou,
Não o faço por querer,
Não me disfarço, nem me escondo,
No falso sentido
Do que acabo por ser.
Se me dou e me desfaço,
Se luto esquecido
Vivo insatisfeito,
Sou no cinzento tristeza,
Verbo conjugado;
Pretérito imperfeito.
Sou um rio parado,
Sem margens, sem leito,
Sem fundo, sem foz...
Uma barca sem remos,
Sem redes, sem leme,
Sem velas, sem nós...
Sou tarde poema,
De versos sem rima,
Lenta de se pôr,
Por entre o nevoeiro,
O que desaparece
E se apaga de cor.
Sou um resto de gente,
O que falta do início,
Um caminho para o fim,
Vergado ao silêncio,
Vergado ao silêncio,
Não se riam de mim.
Se digo o que sinto,
Se minto no que sou,
Não o faço por querer,
Não me disfarço, nem me escondo,
No falso sentido
Do que acabo por ser.