Seu poeta preferido
Bem antes de ser ferido
Já era ferido
Antes
Não visitou as bacantes, as nereidas e as ninfas
Quis beber de sua linfa
Esperou
E não morreu
Esse poeta sou eu
De lira desgovernada
Delírio, musa, amada
Órfão bisneto de Orfeu
Eu pra cantar não vacilo
Digo isso, digo aquilo
Digo tudo que se disse
Digo Veneza
Recife
Fortaleza que se abre
Quero que o mundo se acabe
Se não disser o que sinto
Digo a verdade
Minto
Vertente me arrebata
Minha voz é serenata
Labareda e labirinto
A pena de uma galinha
Trinta caroços de pinha
Doce delírio de Vate
Um colírio, um tomate
Um cartucho de espingarda
O sangue da onça parda
É tudo que trago e tenho
Nada tinha de onde venho
Lenho o que arde sozinho
Beba comigo do vinho
Da arte do meu engenho
De longe escuto o gemido da usina
Adeus, menina do meu padecer
Moer a cana dói, tirar a gema
Sobra bagaço nesse meu viver
Moer a cana dói, tirar a gema
Sobra bagaço nesse meu viver
Desde anteontem o relógio silencia
Pinga na pia o choro de quem é só
Moer a cana dói, tirar a gema
Era madeira, cupim roeu deixou pó
Moer a cana dói, tirar a gema
Era madeira, cupim roeu deixou pó
Adeus, meu povo Pernambuco e Paraíba
Vim nessa vida pra dizer adeus
Moer a cana dói, tirar a gema
Sol dai a luz, clareia os olhos meus
Moer a cana dói, tirar a gema
Sol dai a luz, clareia os olhos meus
Em fogo morto vai o afago da saudade
Nem a metade do que queimou queima mais
Moer a cana dói, tirar a gema
Range a ferrugem e o mel do chorume cai
Moer a cana dói, tirar a gema
Range a ferrugem e o mel do chorume cai