Eu não consigo respirar disse o preto norte americano.
Eu não consigo respirar disse o preto sul americano
Na porta do super, do super mercado eu não consigo respirar!
Eu não consigo respirar!
Sussurrou o anônimo da maca improvisada atrapalhando a passagem
Esperando na passagem improvisada
Porque o joelho no pescoço do outro também sufoca
Me engasga
Joelho, joelhada, ajoelhados, homens e mulheres clamam
Mobilizados homens e mulheres clamam
É preciso subir para respirar toda essa gente sem ar
Mas não tem alivio pra mente - diante de um fuzil
Que saca das mães o ar
Sacam filhos da mãe o ar
Sacou? Filhos da mãe, que sacam das mães o ar
Balas perdidas, souvenir internacional
Riscam do mapa corações orações que nos restam
Terreiros, obreiros e a lida é dos bombeiros
Nem esperam o beco pra calar a preta
E onde tá? Tá no carro. E onde tá a preta?
Tá no beco da esperança, ainda bem que chegou aqui
Mais um pouquinho de ar pelo país da vizinhança.
Meninos e meninas arrancadas dos pais
Sacadas que gritam, mas pra gritar tem que ter ou ser
O que será que será?
Pular das sacadas esperança de ar
Só tem sacada, quem tem lar.
Trans, travestis, todas as cores na paulista
Chega de conquista porque agora eu vos tiro o ar
Que é pra sufocar
Eu não consigo respirar disse pro doutor
Eu não consigo respirar, disse a trans apedrejada
Rebelião, união são tão proibidas quanto um pulmão
Que é pra sufocar mas aqui tem tanto ar!
Puta que pariu, vão me sufocar bem no país da mata atlântica.
Tem ar mas não dá pra respirar disse o desempregado,
Escapou da goela de Maria da Penha
Eu não consigo respirar.
Os Bororós, os Bacairis, Terena, Kadiwéu ...
Olha o véu, olha o véu, olha o véu, olha o véu, olha o véu
Eu não consigo respirar!
Onde há fogo há fumaça, no país da cortina de fumaça.
Eu não consigo respirar!
Porque rasgaram meus pulmões, mas minha letra ecoa sem parar.
Eu não consigo respirar! Eu não consigo respirar!
Eu não consigo respirar
Porque não tem mais ar pra gritar.
Eu não consigo respirar! Eu não consigo