Ao descer a avenida com a boca toda ferida
Descobri um mistério por resolver
Encontrei um silêncio a rondar o comércio
Que fechou quando ninguém estava a ver
Gente pobre é gente fraca
Candelabros de ouro e prata no chão
Ao passar numa porta a ranger toda torta
Quis entrar nas ruínas de um burguês
Ao abrir um buraco descobri um palácio
Com paredes de luxuosa altivez
Deixei-me cair de corpo
Sobre um manto de borboto no chão
Restos de camas de rede e pinturas na parede
De famílias que sorriam num altar
Um baú cheio de jóias e um diário de paranóias
De uma jovem que morreu sem se casar
A madeira bem queimada
Partiu-se ao subir a escada e eu caí
Encontrei uma cave com o tecto preso numa trave
Que cedeu e caiu junto aos meus pés
Ao sentir um vento rijo encontrei um esconderijo
Que servia de jazigo de bebés
Quis fugir dali para fora
Tentei dar um nó na corda do estendal
Vi no chão uma pintura, por detrás da moldura
Estava um texto que me pôs logo a tremer
"Quem não sabe ao que vem não verá mais ninguém
Aqui chegou e aqui irá morrer"
O telhado desabou
Ali mesmo me enterrou e eu morri