Vou comendo os restos de migalhas
Que sobraram do pão de quem comeu
Faço poses revolucionárias
Quis lutar mas o punho não se ergueu
Atiraram-me areia para os olhos
Distraído, só lhe vi a cor
Fui castrado e cortaram-me a cabeça
E eu à pressa, escolhi o mal menor
Saí de um sentido proibido
E dei num beco sem saída
Subi mas já sabia que ali
O caminho é só descida
Fiz-me de burro
Mas não cheguei à palha
Comi restos de migalhas
Fiquei a dever à coerência
Quando me sentei para jantar
No banquete de quem me meteu
Dentro da panela a cozinhar
Fugi por um caminho de cabras
Dei de caras com um batalhão
De soldados com a barriga cheia
À boleia para a revolução
A linha da frente
Normalmente chega sempre atrasada
As forças opressoras com vassouras
Varrem-me logo à entrada
Fiz-me de lixo
Mas nem assim entrei
Restos de migalhas jantei
Saí de um sentido proibido
E dei num beco sem saída
Subi mas já sabia que ali
O caminho é só descida
Fiz-me de burro
Mas não cheguei à palha
Comi restos de migalhas