Cordel Prateado
Paixão é febre lembrosa
Que braseia e enluarece
Eriça o couro, endenga a alma
Chega o peito faz prece
É verve inebriante
Toque que a tudo entrosa
Baque que espouca cantante
Nas marés que a lua trova
Tesa estrela supernova
Que tanto asa que enrosca
Aperreio que envivece
Carcome e intumesce
Tanto completa que fura
Tanto aurora que apura
É nascente caudalosa
Da cadente nebulosa
Que em teu olhar remanesce
Poema que se despadece em turvo leito de prosa
E tem um breu que ofusca
Arco carcando a rabeca
Íris roçando na nuca
Cílios triscando o cangote
Xote gingando na cuca
Feito um rio que engravida
Em meu peito em pororoca
É vão que incandesce
Em verso que ressurrece
No quando cochila a nota
Morena, flor de açucena
De espiraladas melenas e pele de jambo dourado
Tua mão sonhosa em meu couro rude
Fez da minha boca um açude
E do meu peito um sertão mareado
E feito um boto instigado
Precisado dum teu gole que com o caboclo bole
Vou me embrenhando em teus braços
Morena, dos olhos de jabuticaba
Moradas de vagalumes
Do corpo de vales e cume, dos lábios de catuaba
Seresto pro onipotente pro dia anoitá engraçado e brotar teu sorriso acanhado
Construo nesse bilhete pra te servir como enfeite, um cordel em prata forjado
O meu cordel é dente de cascavel afiando a flechada do cupido
De libidinoso zunido, feito vôo de borboleta entre orquídeas do serrado
O meu cordel é o manso que se arisca, é o atiço no recato
Carinhoso cangaço, aliança de ametista nos teus dedos desalinhados
Seu mel me faz céu salivando maracujá
Sou eu o macuco, és tu o emborná
Vem minha cabocla cubista
Que o teu homem te espera assanhado
Com ímpeto de corcel e violão afiado
Pra nós vê noite endiescer e os lençol engruvinhado