Gildinho, canta aquela da viuvinha
Ah! Não essa não. Eu não me comprometo, delegado
Parou, parou, parou, eu, como delegado
Tô autorizando a cantar essa música da viuvinha
Lá vai chumbo grosso
Eu vou contar uma história, pra vocês, peço segredo
Fui num velório esses dias, confesso que levei medo
A viuvinha lá dentro chorava e fazia um gritedo
De vez em quando, dizia: -Fiquei viúva tão cedo!
Por cima do falecido, me olhava entre o vão dos dedos
Coitadinha da viuvinha, tava tão precisada
Não levou nem quatro mês, tava tudo esquecido
Era os lábios bem vermelho`, era o sapato e o vestido
Fui visitar a viuvinha num rancho de chão batido
Ela me abraçou chorando, me falou no pé do ouvido
Vou me embora pra cidade, eu preciso arranjar um marido!
Não aguentei a tentação, me candidatei na hora
Por lá, me encontrei com ela e ficamos bem entretido`
Um dia, nós dois mateando e um gato muito atrevido
Se esfregou passando o rabo lá por baixo do vestido
Ela me olhou com espanto, deu um suspiro e um gemido
Me disse: -Amor, tu não liga, é saudade do falecido!
E eu fiquei louco de inveja daquele galo
Pra dar uma volta na praça, a viuvinha me convidou
Pra nós ficar` quinze dias, muito dinheiro levou
Eu não levei a cordeona, nem tenho tempo pra show
Fomos prum quarto do hotel, toda a roupa ela tirou
Pra mim ver bem de pertinho o que o falecido deixou
E o falecido deixou as coisa` quase sem uso
E, pra encurtar a história, não vou dizer o que fiz
Aprendi que nesta vida tem coisas que não se diz`
Mas garanto que a viuvinha recebeu tudo que quis
Depois foi se confessar com o padre da Matriz
Muitas vezes um defunto faz quem tá vivo feliz
E eu desfrutando do patrimônio do falecido