Quando eu nasci, um anto torto gritou: É UMA MENINA!
Fui ser rosa na vida...
Sobre o sangue da vida que escorre entre minhas pernas, disseram: PECADO
Tantos nos matam, e eu que sou aprisionada?
A cada rótulo, uma morte. Uma porrada.
Primeiro... Primeiro eles me quiseram santa. SENTA!
Depois... Depois eles começaram a me chamar de puta. Porrada.
De gorda. Porrada.
De sapatão. PORRADA.
E quando fui sensível, então...
Ah, quando eu ousei ser sensível... É LOUCA!
Cabeça baixa, sorriso forçado... submissão.
Quando fechamos os punhos para o fascismo velado... patologização.
Nos satirizam, nos satanizam... gozação.
(gritos)
E eu é que vou gozar dessa vez
Eu é que vou gozar
Porque agora eu sei que quando eu gozo
Quando eu gozo as minhas células gritam contra suas identidades compulsórias
Elas gritam contra as suas mordaças
Elas gritam contra as suas cristalizações
Porque eu sei que se meu gozo flui
É porque há vida
E se a vida exige fluir...
Eu fluo
Não fujo
Na margem, há margem
Como um rio no contra-fluxo