Encontrei o um dia, perdido no areal
Foi amor. Ele ansiava pela canção e toda eu era melodia escondida na maresia
Disse-me que só trazia um caderno e uma caneta
E Sussurei lhe todas as notas nos seus ouvidos, sedentos de letras amarguradas e paixão de fel
Pedi-lhe o seu nome
O meu nome é Miguel
Mas a tempestade chegou e vestiu-se negro
O Caderno trovejava a cada frase em rujido
Gritei por ele entre as trevas de água salgada
Ouvi desperada o vento do seu desprezo nos búzios desafinados
Até que o tornado levantou toda a areia
E ele me disse
Não sabes onde estou.O meu nome é Miguelvis, sereia
E tudo ficou ainda mais escuro
Todas as promessas traídas na nossa canção!
Mas quem é que ele pensa que é?
Eu disse que era amor
Eu disse que ele era rei
Roguei-lhe-lhe todas pragas vindas do fundo do mar
Como pode ele achar que vai fazer a sereia deixar de cantar?
Pobre idiota! Nunca mais sairá da minha rede!
Ficará afundado em cerveja a feder a podre num beco da doca
Enfentiçado e meio morto, todos lhe chamaram Joca!
E quando a Sagres acabar e a maré esvaziar
Serenamente com a neblina ele ainda me vai ouvir cantar...