Rio meu de muito tempo
Há muito o tenho sofrido
e muito o tenho gozado
Nunca me banhei no Copacabana
Nunca fui ao Corcovado
Nunca fui ao Pão de Açucar
Por tudo quanto é sagrado
As mulatas do Catete
Meio escravas
Meio senhoras
Não dão bola para mim
Das favelas sem beleza
Saem sambas bem bonitos
Das favelas miseráveis
Sai uma beleza de samba
Dormi no albergue noturno
Sonhei com a amada distante
Fui preso incomunicável
Na Rua da relação
Na Lapa nunca fiz ponto
Não fiz ponto no Leblon
As operárias texteis
Coitadas
Vestem tão mal
O tecido que elas tecem
Não é delas
é do patrão
Tanto se joga Purrinha
Neste Rio de meu Deus
Que parece exercício
Pra saudação do futuro